#26 Permuta civilizatória, o que é isso e o que tem a ver com a nossa felicidade
Imagina o tempo quando não havia luz elétrica, pasta de dente, sabonete, cotonete, ar condicionado, geladeira, veículos automotores, novalgina, anestesia, tecnologia médica, internet, redes sociais, inteligência artificial, moeda eletrônica… não sei você, mas eu não queria viver nessa época considerada pré-civilizatória.
Inegáveis são os benefícios do progresso, mas ele teve um custo. O processo civilizatório transformou significativamente nosso modus vivendi, a maneira como vivemos. Erámos mais conectados com a natureza, tínhamos uma alimentação mais natural e saudável, o ritmo era menos louco e apressado.
Claro que morríamos de doenças ridículas, não tínhamos um conforto mínimo, mas será que não éramos mais felizes?
Exteriormente progredimos, interiormente tivemos o mesmo avanço? O aumento exponencial das doenças da alma não evidencia que o progresso exterior terminou por nos fazer retroceder interiormente? Eis aqui a tal permuta civilizatória. Trocamos o avanço externo pelo retrocesso interno. Alterada nossa harmonia primitiva, perdemos nossa essência, ficamos menos humanos, ganhamos recursos externos e empobrecemos internamente.
Se correta, esta análise explica a saudade que as vezes temos de um tempo que sequer vivemos.
Ansiamos por uma vida diferente daquela posta diante de nós. Mais tranquila, saudável, humana, harmônica, feliz. O que fazer, retornar ao passado? Impossível. Contudo, fica a pergunta: será que a permuta valeu a pena?
Este parece o argumento de Freud em “O Mal Estar da Civilização”: no tempo das cavernas podíamos ter o que quiséssemos, na hora que quiséssemos, isto é, se não encontrássemos alguém mais forte do que nós, que poderia vir e tomar o que fosse nosso. Ou seja, a civilização nos priva de muitos desejos (mentir, roubar, cobiçar o cônjuge alheio, etc.), mas nos garante o direito ao que é nosso. Civilização é um contrato. A felicidade que advém de menos contratos compensaria a infelicidade de ter nossos direitos violados?
Esta questão me parece ser uma falácia, como Woody Allen desejando voltar à Paris do século passado: as pessoas não eram mais felizes naquele tempo do que são hoje. Cada tempo tem suas angústias. Keynes morreu aos 63 anos de endocardite, por falta de antibióticos; nos dias de hoje teria vivido muitos anos a mais. Hoje vivemos uma aceleração por conta das TIC, mas podemos conversar em videochamada com amigos e familiares queridos que moram a milhares de km de distância.
Não são as circunstâncias externas que nos faz felizes (ou não).
Belíssimo arrazoado meu amigo
Incrível pensar sem os confortos dos avanços das últimas décadas..,..
Mas é incrível ver que perdemos os maiores valores de relacionamentos….
Reflexão muito interessante, legal mesmo, nos faz pensar em tantas coisas! Mas, não me arrisco a responder a essa complexa pergunta.
Sim Francisco
Darcy eu também!
Eis uma questão contraditória. Esse mundo pós moderno tão cheio de conforto e tecnologia, contudo vazio de relacionamentos profundos e estáveis, tão necessários para uma vida emocional saudável.
Sim Francisco
Lei da vida: toda escolha acarreta alguma perda, mesmo que não esteja claramente apresentada, né?
É
Que texto gostoso de ler. Me levou a um tempo muito bom da minha vida, onde eu tinha poucas responsabilidades e a sensação de que nada me faltava. Não me arriscaria a responder também as perguntas.Me adapto bem as mudanças.
Sim querida Miriam
“A palavra ”progresso” não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes.”
Albert Einstein
“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.” Albert Einstein
“A realidade é apenas uma ilusão, ainda que muito persistente.”
Albert Einstein